EM DEFESA DA EDUCAÇÃO
O ensino da disciplina de Sociologia nas séries que compõem a última etapa da educação básica está sob ataque após a publicação da Base Nacional Comum Curricular.
Antes de questionar os interesses privados que orientam o documento é necessário defender o ensino de Sociologia nas escolas públicas. Para isso, utilizo de alguns argumentos não necessariamente científicos, mas que constituem uma espécie de campo “sociologuês”.
O objetivo desse artigo é político. Dito isso, é necessário perguntar o que entendemos por sociedade. Ainda mais neste momento dramático de nossa história. Seria possível considerar a sociedade como um “todo” integrado? Ou será que o indivíduo é uma unidade atomizada tal como os ideólogos do neoliberalismo acreditam que seja?
A Sociologia no ensino médio tem por objetivo ensinar os alunos e alunas a pensar a realidade a partir de critérios científicos básicos, incentivando a comunidade escolar a desenvolver uma compreensão racionalizada dos fenômenos sociais.
A racionalidade científica busca compreender os fenômenos sociais a partir da relação entre indivíduo e sociedade. Na Sociologia, denominamos esse encontro de “relações sociais”. Essas relações são fundamentais para qualquer cidadão. É um direito se perceber como parte de uma comunidade ou associação.
Para isso, a Sociologia é uma ferramenta analítica que tem o poder de revelar as relações que conectam os indivíduos em torno, por exemplo, de um projeto político. Para os sociólogos, toda e qualquer relação social pode ser estudada e analisada de maneira objetiva. Em geral, essa é umas das características das Ciências Humanas.
O que soa num primeiro momento como uma simplificação da realidade e da experiência humana, no fundo se revela uma verdadeira obra do pensar. No ensino médio, a Sociologia tem parte dessa responsabilidade: fazer o aluno pensar. Ainda seria pertinente, no entanto, refletir sobre qual seria o lugar que os elementos subjetivos nas análises sociológicas. E de que forma elas podem ser aproveitadas pelos estudantes.
Considerando que, a teoria social tem dificuldade em incorporar a subjetividades dos indivíduos em suas análises, torna necessário problematiza-los. A sala de aula é o espaço adequado. A Sociologia leva em consideração as experiências dos jovens. Leva-los a refletir sobre elas é uma poderosa ferramenta de desenvolvimento humano. Apesar de tradicionalmente a racionalidade ocidental, ou seja, a forma de pensar o mundo tender a negar os elementos subjetivos contidos nas ações humanas.
No momento que escrevo este texto, estou cada vez mais convencido de que os elementos como “alma”, “espírito”, “consciência” e “pensamento” estão carregados de subjetividade. Alguma surpresa em constatar isso? Para um cético, talvez. Ou é a instituição escolar que teima em “esvaziar” as experiências juvenis.
É falso separar sociedade e indivíduo? Sim. Desta maneira, podemos estabelecer que a objetividade também não está separada da subjetividade. É um processo dialético no qual se esconde aquilo que entendemos por humanidade. Por isso, o ensino de humanidades é fundamental para a democracia.
A Sociologia no ensino médio é uma conquista de todos. Ela merece e tem o direito de permanecer. A capacidade de pensar deu aos indivíduos a possibilidade de abstrair e refletir sobre os problemas que nos afligem. O momento histórico pelo qual o Brasil vive torna o ato de pensar uma forma de legitima defesa contra as correntes autoritárias e fascistas que circulam entre nós.
Dessa forma, a permanência da Sociologia como disciplina obrigatória é um ato de resistência ao processo de desumanização que assistimos. A mobilização será um elemento estruturante das ações políticas que conduziram educação pública para a barbárie ou liberdade.
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